Sunday, August 29, 2021

Bruta



Sou pedra, 

bruta soul

Inalterada

Selvagem.


O que é bruto não está pronto para servir.


Das coisas que aprendi, larguei-as e esqueci. 

Vivo o movimento de esquecer

Desaprender a retidão 

Des-refinar o corpo, 

Deturpar a ordem dada.


Bruta 

Rasgo com arestas

As mãos dos negociantes. 

Nem sabem o que é pedra,

Julgam pela cor

Cortam, esmeram, lustram.

Depois dão o nome de diamante. 

Há quem acredite.

Ora, que senso faz a pedra fora do fora?

Mercadoria

nutrindo o vazio do que é perenemente oco.


Querem-me diamante

Para esconder numa caixa

Um caixão? 

Um caixão para guardar a vida, esta vida. 


A brutalidade, 

a ferocidade

foram tiradas de contexto.


Deixem-me ser bruta 

como só o pernicioso espinho,

o lobo faminto,

a delicada flor

E o amor sabem ser.

E eu derramarei meus minérios

No colo da terra.


Vanessa De Aquino

2021


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