Sunday, February 14, 2021

Futuros Náufragos


A Fria Lisura



É na fria lisura do aço

Que eu vi o presente passar


Legiões de monarcas

Temem por seus empregos

Órgãos à flor da pele 

E a pele já nada pode


A queda nunca tem fim


No mar naufragamos em vão

A seca que não se sacia

Está por dentro

Pelas ruas

No caos da aparência 


Somos todos futuros náufragos 



Da terra brota o pó em forma de vida morta 

Pavimentando a história com sombras que nos embotam

Governos, igrejas, mercados… a morte, eles abortam

Mas estiram nossos corpos frios no incólume concreto


O tato não reconhece o corpo


Caminham pés sem corpos, olhos sem retina 

Medos, sonos, cobiças transitam pela cidade

Comprando poeira bonita com pérolas que já não têm

De construções impotentes gritam algo sem grito

O eremita é o único que escuta.


A escuridão está morta


Escalam montanhas de coisas

São restos de humanos sonhos

Importa é estar no topo

A chegada é sempre um poço 


Velhice virou desmazelo


A uniformidade impera 

É o veto à diferença

Trancados do lado de fora

De nós mesmos


A boca jamais se escuta


A riqueza, essa miséria

Todo ouvido, fechado

Todo o silêncio, banido

Todo pensar, pré-cozido

Todo amor, descartável 

Toda dor é curável

Todo animal é o outro


O que resta de nós?

O que resta de nós?


Poema e foto: Vanessa De Aquino

Dec 2020




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