A Fria Lisura |
É na fria lisura do aço
Que eu vi o presente passar
Legiões de monarcas
Temem por seus empregos
Órgãos à flor da pele
E a pele já nada pode
A queda nunca tem fim
No mar naufragamos em vão
A seca que não se sacia
Está por dentro
Pelas ruas
No caos da aparência
Somos todos futuros náufragos
Da terra brota o pó em forma de vida morta
Pavimentando a história com sombras que nos embotam
Governos, igrejas, mercados… a morte, eles abortam
Mas estiram nossos corpos frios no incólume concreto
O tato não reconhece o corpo
Caminham pés sem corpos, olhos sem retina
Medos, sonos, cobiças transitam pela cidade
Comprando poeira bonita com pérolas que já não têm
De construções impotentes gritam algo sem grito
O eremita é o único que escuta.
A escuridão está morta
Escalam montanhas de coisas
São restos de humanos sonhos
Importa é estar no topo
A chegada é sempre um poço
Velhice virou desmazelo
A uniformidade impera
É o veto à diferença
Trancados do lado de fora
De nós mesmos
A boca jamais se escuta
A riqueza, essa miséria
Todo ouvido, fechado
Todo o silêncio, banido
Todo pensar, pré-cozido
Todo amor, descartável
Toda dor é curável
Todo animal é o outro
O que resta de nós?
O que resta de nós?
Poema e foto: Vanessa De Aquino
Dec 2020
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