Thursday, September 3, 2020

Sem Compaixão






Venhas rei, o soberano deus, o palatino

Contrito, ávido, heróico, carabino

Avançando terras que a morte ecoam, 

Onde nacos, grama, grãos e seixos voam

Das patas do teu pegasus cujas asas troam


Venhas vespertina estrela faminta de mil sóis 

o ventre pronto, a casta, a pura série de bemóis, 

Rondando nossos passos tímida raposa, 

Furta-nos futuro em ovos, crias… ousa,

Vem matar a sede que em nós repousa. 


Venta ventania com tirânicas feições

Imune, torpe, mórbida, até frustras furacões,

Estendem-te os braços damas e homens de bem

“Justiça contr’os maus!” nutrindo seu desdém 

Talham o teu sangue ao pronunciar: Amém!


Vem espessa nuvem, purga e batalha

Realizar dos homens este sonho de navalha, 

Deita o sangue de seus filhos sobre os olhos cegos,

De quem ensina o umbigo, o roubo, os grandes egos.

E deixes, que da compaixão eu m’encarrego. 


22 julho 2020


Vanessa Emmanuelle


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