Quando a noite se assenta sobre o acampamento e os homens deixam o manso véu andino que cobre as montanhas para ir jantar nos prédios de lata, saio furtiva da casa da fazenda a explorar a noite como se fosse só minha.
Não há ninguém, só eu estou no mundo e me ponho a caminhar pelo pomar, com suas árvores secas pelo inverno gélido e a vigiar as estrelas cadentes sem fazer pedidos, porque é bobagem fazer pedidos num mundo onde não há mais ninguém.
Ao alcançar o pasto espanto os pássaros invisíveis que se recolhem por trás do capim. Assustados, voam com seus piados esganiçados me indicando a direção que tomam sem jamais me deixar vê-los.
Então visito os bichos sonolentos que moram no curral e que não sei bem se por sono ou por medo de mim, não fazem o menor ruído.
Depois dou pra observar o céu que de tantas estrelas me estarrece. Elas caminham sobre mim, me assombram e seduzem. Abduzida me encontro na porteira. Perdida, ando no meio da estrada e fico pensando que provavelmente os céus são o reflexo do oceano que esteve aqui um dia, com suas miríades de estrelas marinhas e algas com textura de Via Láctea. Isso provavelmente explica os terremotos.
Pouco me importam as explicações científicas ou os estudiosos com suas teorias. Pois eu, quando ando lá fora olhando para os mares celestiais, só consigo pensar que a terra, ao mirar o espelho do céu e ver o rosto que guardou sua juventude, só pode mesmo reagir com sobressalto...
...Disseram-me que há terremotos na província de San Juan, mas que terra não estremeceria diante deste céu?
Vanessa Aquino.
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