Ouvia música e era arrebatada, os pés se moviam suavemente e o corpo queria se entregar aos acordes. A mente se perdia em devaneio, o coração palpitava e me fazia sentir renovada. Era amor, pensei. Precisava encontrar uma forma de libertar o corpo das cadeias da timidez, da auto-consciência, do olho do outro.
Encontrei uma escola de dança. Me inscrevi no curso de danças mais apaixonado possível. Sonhei com as aulas, me preparei. Comprei um vestido com fitas vermelhas, uns sapatos cheios de más intenções, coloquei na minha bolsa o vestido, os sapatos e o coração.
Aterrisei no estúdio com brilho nos olhos, cabelos presos sem muita ambição, sorriso de lua e expectativas sem fim.
Quando o professor de dança chegou, nos explicou os princípios da dança e nos ensinou como contar. Ao ouvir tal heresia a dança se escondeu atrás do divã, a música tocou à força, os passos ficaram perdidos.
1,2,3,4,5,6,7,8.
1,2,3,4,5,6,7,8.
Aprendi a contar na aula de dança e a minha esperança se atirou pela janela. Meu corpo não sabe contar, quem conta são os matemáticos com sua mania de medir poesia. O meu corpo confuso não acertou sequer um passo. Frustração e um silêncio gélido me dominavam.
Fim de aula. O professor disse: “Se quiserem praticar podem ficar no estúdio.”
A música retomou o fôlego, e sem números dançando pelo ar, ela tocou delicada o assustado coração. Abracei o parceiro de dança e o corpo obedeceu seu comando. Eu podia agora dançar sem explicações, aquilo que jamais se poderá explicar.
Vanessa Emmanuelle de Aquino.
Vanessa Emmanuelle de Aquino.
No comments:
Post a Comment