Estando eu atravessando a rua, via um molambento que descia a rua
Acostumado ao mau cheiro e à escuridão que lhe aprisionava a pele,
passou por mim como se eu não estivesse ali, embora eu não pudesse ignorar sua presença.
Não é que me incomodasse as narinas, nem porque assustador me parecia,
mas é que do outro lado eu ouvia entre gracejos a zombar uma mulher:
-Porque não toma um banho este homem? Não vê que é um incomodo ao bom gosto?*
E a arrancar-me a pele estas palavras, vestidas de estupidez e maldade, fizeram-me ponderar no meu caminho.
Não é que esta ignóbil moça nem lembrava, que banho um sem teto pode ter, que sabonete um maltrapilho compraria, se ele já nem tem o que comer?
Pensei que sua mente fosse suja, mais suja que aquele pobre mendigo, que antes de compaixão e bons modos, só lhe passa o bem estar que quer pra si. Tão torpes, tão vis são suas falas, que me enojaria mais tocar suas mãos, do que a boca deste pobre eu beijar.
Ainda no caminho eu me voltei, propondo a tal mesquinha que voltássemos a procurar tão sujíssimo sujeito. A ele eu daria um sabonete e ela lhe ofereceria o banheiro.
Chamando-me de louca e mentecapta, pergunta que absurdo lhe faria, abrir as portas de sua linda casa, a um imundo homem como aquele.
Eu lhe respondo, sem pestanejar, que a idéia não partiu de mim. Que antes se o queria limpo, como dissera em alto e bom som, que fosse então a primeira a cooperar com a doce realização de seus desejos.
E pela primeira vez, daquela boca, brotou uma frase que caíra nos tímpanos do senso crítico, como algo agradável e lúcido:
-Não sei por que motivo falo essas coisas. O melhor mesmo é eu ficar calada!
Acostumado ao mau cheiro e à escuridão que lhe aprisionava a pele,
passou por mim como se eu não estivesse ali, embora eu não pudesse ignorar sua presença.
Não é que me incomodasse as narinas, nem porque assustador me parecia,
mas é que do outro lado eu ouvia entre gracejos a zombar uma mulher:
-Porque não toma um banho este homem? Não vê que é um incomodo ao bom gosto?*
E a arrancar-me a pele estas palavras, vestidas de estupidez e maldade, fizeram-me ponderar no meu caminho.
Não é que esta ignóbil moça nem lembrava, que banho um sem teto pode ter, que sabonete um maltrapilho compraria, se ele já nem tem o que comer?
Pensei que sua mente fosse suja, mais suja que aquele pobre mendigo, que antes de compaixão e bons modos, só lhe passa o bem estar que quer pra si. Tão torpes, tão vis são suas falas, que me enojaria mais tocar suas mãos, do que a boca deste pobre eu beijar.
Ainda no caminho eu me voltei, propondo a tal mesquinha que voltássemos a procurar tão sujíssimo sujeito. A ele eu daria um sabonete e ela lhe ofereceria o banheiro.
Chamando-me de louca e mentecapta, pergunta que absurdo lhe faria, abrir as portas de sua linda casa, a um imundo homem como aquele.
Eu lhe respondo, sem pestanejar, que a idéia não partiu de mim. Que antes se o queria limpo, como dissera em alto e bom som, que fosse então a primeira a cooperar com a doce realização de seus desejos.
E pela primeira vez, daquela boca, brotou uma frase que caíra nos tímpanos do senso crítico, como algo agradável e lúcido:
-Não sei por que motivo falo essas coisas. O melhor mesmo é eu ficar calada!
Vanessa Aquino.
*Agradecimentos ao meu pai, que me iniciou nesta história.
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