O mais interessante é que vendo toda aquela gente conheci a falta que me faz estar entre esses desconhecidos que preenchem o vazio quotidiano da sociabilidade. A falta que me faz caminhar contra o vento, a falta dos meus irmãos, meus pais e a falta de mim. Ver ali os pedaços que fazem parte da minha alma, todos soltos entre artigos de fazenda, temperos e pães numa feira de sexta, provocou em mim uma nostalgia, uma saudade daquilo que nunca deixou de estar em mim, mas que foi então esquecido em um canto, feito um brinquedo largado numa caixa empoeirada qualquer.
Senti falta da minha família, dos meus amigos, das conversas longas sobre filosofia e metafísica. Tenho pensado com freqüência na minha falta... a minha falta de dinheiro, minha falta de trabalho, minha falta de tempo ou minha falta de ocupação. É preciso repensar a falta que sentimos, porque às vezes o que pensamos estar faltando, está sobrando e o que pensamos estar sobrando pode estar faltando e isso pode nos dar mais força (no caso de você encontrar mais objetivos no bolso da calça - como o dinheiro que a gente esquece lá ) ou nos levar para o fundo do poço, quando descobrimos que não enchemos a dispensa com nossos sonhos mais ardentes de iniciar novos projetos, conhecer novos lugares, estudar novos assuntos.
A falta é a caixa que guarda aquela força que não encontramos quando ainda temos algum apoio. Ela é a fonte de onde retiramos a garra, o crescimento, o passo a frente, a energia extra e o auto-conhecimento. A falta é necessária em nossa vida por muitas vezes. É por isso que se te faltar algo uma vez na vida, que não te entristeça, nem te envaideça a miséria ou a pena daqueles que te cercam. A falta é, de alguma forma o início, um "vazio grávido de possibilidades", o momento do novo, a chance das novas promessas e das mudanças que provavelmente há muito, já desejávamos.
Vanessa Emmanuelle.
Fotos: Vanessa Aquino
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