Há quem tente falar de outros lugares, de outros países, de outras vidas, de outras vivências, sem nunca tê-los experimentado, mas o que se tem no final é plena fantasia. Só sabe o gosto dos escargots quem os já provou. Se ruins ou bons, não importa muito mesmo, o que importa é que o sabor ou dessabor só tem quem arriscou a própria língua ali.
Falar de onde se esta é sempre mais fácil, apesar de ser também plena percepção do todo de acordo com a linguagem com a qual você aprendeu a traduzir o mundo. Exemplificando o que quero dizer, de forma grosseira, há quem prove um prato de frutos do mar e só sinta o sabor do sal, outros dirão da manjerona, do alho ou do vinho usado no cozimento... ou seja, mais importante do que ir a New York e ver a Times Square rapidamente, é aprender calmamente sobre as peculiaridades locais e pesquisar um tanto antes de iniciar a sua visita. Para conhecer NY é preciso mastigá-la bem devagar, testando seus gostos, sentindo suas emoções, vivendo seus dias, conhecendo suas tortas de maçã, só depois é que poderemos dizer o que aprendemos.
Portanto, se o seu ponto de vista sobre as tristes mulheres girafas da África, sobre a má educação do cidadão francês, sobre a alienação do americano, sobre o radicalismo do Oriente Médio veio de uma bocada engolida às pressas de um jornal de direita ou de esquerda, é melhor você começar a vomitar, pois o seu próximo comentário a respeito de uma cultura alheia à sua, pode provocar uma grande indigestão.
Falo da experimentação porque é preciso experimentar o ponto de vista do outro lado antes de nos proclamarmos donos da razão suprema. Lembrem-se do que o ratinho disse à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?"
Para cada ação há um motivo, para cada ponto de vista um contraponto!
Vanessa Aquino