Saturday, July 14, 2007

Sobre a falta

Hoje era dia de sol, era dia de colocar a alma no varal urbano e acabar com as marcas de mofo que por algum tempo me acompanharam. E fui ver gente caminhando, como eu, perdida em uma praça de Boston e contente pelo encontro anônimo dos habitantes de uma mesma cidade que geralmente não se vêem, não se cumprimentam, não se sorriem.

O mais interessante é que vendo toda aquela gente conheci a falta que me faz estar entre esses desconhecidos que preenchem o vazio quotidiano da sociabilidade. A falta que me faz caminhar contra o vento, a falta dos meus irmãos, meus pais e a falta de mim. Ver ali os pedaços que fazem parte da minha alma, todos soltos entre artigos de fazenda, temperos e pães numa feira de sexta, provocou em mim uma nostalgia, uma saudade daquilo que nunca deixou de estar em mim, mas que foi então esquecido em um canto, feito um brinquedo largado numa caixa empoeirada qualquer.

Senti falta da minha família, dos meus amigos, das conversas longas sobre filosofia e metafísica. Tenho pensado com freqüência na minha falta... a minha falta de dinheiro, minha falta de trabalho, minha falta de tempo ou minha falta de ocupação. É preciso repensar a falta que sentimos, porque às vezes o que pensamos estar faltando, está sobrando e o que pensamos estar sobrando pode estar faltando e isso pode nos dar mais força (no caso de você encontrar mais objetivos no bolso da calça - como o dinheiro que a gente esquece lá ) ou nos levar para o fundo do poço, quando descobrimos que não enchemos a dispensa com nossos sonhos mais ardentes de iniciar novos projetos, conhecer novos lugares, estudar novos assuntos.

A falta é a caixa que guarda aquela força que não encontramos quando ainda temos algum apoio. Ela é a fonte de onde retiramos a garra, o crescimento, o passo a frente, a energia extra e o auto-conhecimento. A falta é necessária em nossa vida por muitas vezes. É por isso que se te faltar algo uma vez na vida, que não te entristeça, nem te envaideça a miséria ou a pena daqueles que te cercam. A falta é, de alguma forma o início, um "vazio grávido de possibilidades", o momento do novo, a chance das novas promessas e das mudanças que provavelmente há muito, já desejávamos.

Vanessa Emmanuelle.





Fotos: Vanessa Aquino

Thursday, July 12, 2007

Sobre meu pai


Pater Noster, qui es in caelis:
sanctificetur nomen tuum: adveniat regnun tuum:
fiat voluntas tua sicut in caelo et in terra.
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie:
et dimmite nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris.
Et ne nos inducas in tentantionem.
Sed libera nos a malo.

Amen.


Deus me lembra meu pai, porque mais do que ser pai, foi ele quem me ensinou um pouco da língua que parece estar mais próxima de Deus (apesar de saber que Deus não fala línguas... Ele é o verbo e todo verbo faz parte Dele, em qualquer língua em que se pronuncie o nosso coração).

Mas foi também o meu pai quem me mostrou a beleza da criação, a ternura das plantações, a virtude da bondade e tantas outras coisas que fazem parte do que de mais lindo herdamos de Deus.

Meu pai se parece com Deus, porque se esconde apesar do seu grande amor, porque age em meu favor sem se pronunciar, sem se importar se será seu o mérito ou se seus filhos simplesmente pensarão que têm sorte.

Eu não tenho sorte, tenho a espada da boa vontade na minha mão direita e o escudo da justiça na minha frente. Sorte eu não tenho, eu tenho um Pai que de tanto amor me deu outro pai, para que eu pudesse ficar mais próxima da essência de Deus e para que nós dois pudéssemos conversar com mais urgência e mais matéria. E não seria também interessante a idéia de que o nome de meu pai seja símbolo daquele que veio para nos ensinar e salvar?

Que Deus me permita essa conexão tão divina por muitos anos e que eu possa ter a alegria de dividir com meus irmãos a fascinação que é, ter um pai que se aproxima tanto de Deus em sua sabedoria, paciência, desprendimento e amor.

Amen.

Vanessa Emmanuelle

Sunday, July 8, 2007

White Mountains

Neste 4 de Julho decidimos fazer algo bem diferente... ao invés de assistir a paradas e fogos de artifícios viajamos para o estado New Hempshire.

Enfim, New Hempshire, White Mountains, Franconia - a nossa cidade de destino.

Muito blah, blah, blah no carro desde as 6:00 da manhã e um café da manhã saudável, com direito a bacon e ovos fritos.

Ok, mas, o que há pra se fazer em Franconia além de tomar café?

Muita adrenalina rola por lá, basta escolher, mountain bike, passeios a cavalo, caçadas, caminhadas em trilhas, escaladas, passeios em teleféricos e até esqui... no inverno!

Marcamos nosso passeio a cavalo para o final do dia, já que havia ocorrido um acidente e algumas pessoas estavam com braços e pernas quebrados lá! Trágico? Talvez! Quem vai saber são os médicos mais tarde.

Enfim, pé na estrada, entramos em outro ponto da rodovia e começamos a escalar um muro sem mais nem porquê, afinal, escaladas em paredes sempre parecem não ter um objetivo claro, mas que é bom isso lá é!

Se quiser ver mais fotos sobre esse passeio basta visitar o outro Pecatoribus (http://www.pecatoribus.spaces.live.com/) lá deve ter foto até da Cuca!

Bem, alugamos umas bicicletinhas daquelas de 21 marchas e suspensão dupla e... 'bora pro alto da montanha. Éramos 9 e pedalamos 22 kilometros parando pra tirar fotos, meditar, ver pequenas quedas d'água, arrumar corrente de bicicleta e procurar o caminho certo a seguir, afinal, não é sempre que se é autorizado a pedalar em rodovias aqui e isso fazia parte do nosso trajeto.

Muito bem, lanchinho no Mac Donalds (sim, vc encontra isso aqui até no meio da montanha!) e corrida até os cavalos, que fecharam o nosso dia feliz com chave de prata, já que não pudemos correr nos cavalos. Tudo bem, nada que uma visita ao Brasil não possa resolver mais tarde.

Enfim, um dia feliz entre os amigos largados em Mass.

Vanessa Emmanuelle

Tuesday, July 3, 2007

If You Forget Me

I want you to know
one thing.

You know how this is:
if I look
at the crystal moon, at the red branch
of the slow autumn at my window,
if I touch
near the fire
the impalpable ash
or the wrinkled body of the log,
everything carries me to you,
as if everything that exists,
aromas, light, metals,
were little boats
that sail
toward those isles of yours that wait for me.


Well, now,
if little by little you stop loving me
I shall stop loving you little by little.

If suddenly
you forget me
do not look for me,
for I shall already have forgotten you.


If you think it long and mad,
the wind of banners
that passes through my life,
and you decide
to leave me at the shore
of the heart where I have roots,
remember
that on that day,
at that hour,
I shall lift my arms
and my roots will set off
to seek another land.

But if each day,
each hour,
you feel that you are destined for me
with implacable sweetness,
if each day a flower
climbs up to your lips to seek me,
ah my love, ah my own,
in me all that fire is repeated,
in me nothing is extinguished or forgotten,
my love feeds on your love, beloved,
and as long as you live it will be in your arms
without leaving mine.


Pablo Neruda