O sol vai alto
Não sei se bêbado ou esnobe.
Promíscuo, às vezes se enrosca com uma nuvem.
Daí esfria e segue como quem se obstina em chegar.
Não sabe, está estático, agarrado ao trono.
– Não faz assim! – Me acarinha o rosto.
Não gosta das suas verdades.
Quem gosta?
Não conto, já que não quer ouvir,
Que se ele brilha não é porque quer
Brilha apenas por ser quem é.
Não se enganem, brilhar e dar suporte à vida são ações distintas abrigadas em corpos celestes diferentes.
– Falas de mim? – Me acaricia o rosto agora com mais força. E toca tudo o que as sombras deixam.
– Quero tocar à todos.
– Tocas demais. – Explico.
Ele se esconde atrás das nuvens.
– Nos seus braços vamos fenecer sufocados um dia...
– Não sou eu quem dita as regras. – Diz sem se desfazer da nuvem que lhe afaga a cara.
– Eu sei.
Olha-me com um olho cintilante mas sentido, como quem também conhece seu fim.
– Por que me chamastes?
– Tenho frio. – disse – Mas quero ir ao rio, me banhar.
– E queres que eu toque tudo o que posso no vale? – Pergunta com ironia.
Eu dou de ombros e nego com a cabeça.
– Não sou eu quem dá ordens ao majestoso astro. Só queria convidar e saber se tens planos.
Sabendo que tem vaidade adiciono:
– Esse rio é tão limpo, forma um lindo espelho do céu.
Olhando para o alto ele já vai se enroscando com outra nuvem... pisca para mim apontando o rio.
Impossível evitar seus encantos, nem quero.
Gosto do charme com que se move e hipnotizada desço a montanha, câmera em punho e o entusiasmo de observá-lo onde sua beleza se duplica, refletida nas águas frias do Missisquoi.
Vanessa Aquino
Julho 2020 - Missisiquoi
Fotografia: Vanessa Aquino