Eu costumo acordar sempre às 7 da manhã, não por causa do relógio, mas por causa da beleza.
Quando vejo os primeiros raios de sol através da minha janela me sinto como a recém casada que recebe o café da manha na cama. A diferença é que com o tempo o marido se cansa e a esposa acha a ação pouco criativa. A beleza do amanhecer não tem disso, ela se renova todos os dias e entusiasma até mesmo o mais antigo dos homens.
Entusiasmo, do grego, en theos significa estar possuído por Deus. E deve ser exatamente por isso que o amanhecer se renova dentro de nós apesar da ação ser a mesma. Deus nos encanta a cada dia com uma de suas várias faces e nós nunca nos cansamos de ver o sol nascer, pois há sempre um novo Deus a nos acordar. Basta olhar para nós mesmos, todos tão diferentes em feições e comportamentos e somos ao mesmo tempo semelhantes a Deus.
"Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou." (Gênesis 1:27)
Deve ser também por isso que Chico César e Maria Bethânia invocam Deus de toda forma possível afim de descobrir sua identidade:
Invocação
" Deus dos sem deuses
deus do céu sem Deus
Deus dos ateus
Rogo a ti cem vezes
Responde quem és?
Serás Deus ou Deusa?
Que sexo terás?
Mostra teu dedo, tua língua, tua face
Deus dos sem deuses."
De nada adianta invocar e esperar que Deus se manifeste com voz estrondosa e raios vindos do céu. Deus tem sua forma divina de nos responder todos os dias, apesar de muitas vezes não querermos ver ou ouvir. Prova de que ignoramos a sua manifestação é se pensarmos em qual foi a última vez que paramos para contemplar as nuvens que bailam no céu.
Se Deus é onipresente é impossível que ele se manifeste apenas dentro das igrejas ou nas pessoas que proferem suas orações todos os dias. Deus está na beleza rotineira que a pressa não nos deixa ver e está também nos ateus e na ausência que sentimos Dele.
Vanessa Emmanuelle.
Fotos: Vanessa Aquino.