Saturday, June 30, 2007

Sobre o Cheers

Havendo eu decidido cortar a palavra "procrastination", ou procrastinação da minha vida, resolvi fazer algo que há muito eu desejava. Ir ao centro de Boston só para tomar uma cerveja no Cheers.
O Cheers é um bar famoso daqui por causa de um velho seriado que passa na TV. Lá bebe-se boa cerveja e assiste-se aos jogos de baseball do Red Sox, time da casa de Boston.
Pois então, decidi e fui fazer o que eu queria há tempos, assim como a festa de Providence (já abordada anteriormente).
Iniciei meu passeio pegando o metrô de Boston. Uma sensação de vazio me veio quando percebi que ali teria sido um lugar preservado da minha solidão já que guardava as lembranças de idas e vindas acompanhada por alguém que checaria se o meu casaco estava bem fechado ou se eu estaria confortável o suficiente para o rápido passeio que faríamos. Confesso que senti as pernas tremerem e quase dizerem-se impossibilitadas de continuarem sozinhas; um mal estar, uma sensação de que eu iria a qualquer momento tropeçar ou de que o meu estômago iria regurgitar o que estava por dentro, como se a dor e a incompreensão pudessem ser expulsas assim, com uma reclamação estomacal.
Não dei bola, continuei caminhando para não deixar o combinado sair da ordem. Enfrentei o mal estar do metro e recebi uma recompensa... a superação. Passei feito um caminhão sobre a minha dor e ela morreu ou ao menos está em coma no hospital.
Bem, continuando a viagem, chegando ao centro de Boston passei entre as ruas de North End, um "bairro" italiano que na ocasião estava cheio de marinheiros que felizes provocavam as meninas que passavam. As ruas de North End são pitorescas e os bares cheios de gente bonita e feliz.
Um sushi no Quincy Market (equivalente ao Mercado Central) foi necessário, depois de um tempo assistindo aos shows de rua que apresentavam por lá. Foi quando me dei conta de que eu estava num programa pra turistas... e não seria eu uma turista? Há tanto tempo aqui e não havia ido tomar uma cerveja no Cheers ou assistir a vida noturna de Boston.

Por que que a gente é assim?

A cerveja no Cheers foi muito boa, acompanhada de risadas, jogo de baseball - GO SOX!!! - e explicações sobre as regras do mesmo e... piadas, claro!

Bem, o retorno ao metro ainda me deu uns calafrios mas, estando eu in good company, me esqueci e acertei o passo do meu coração.

Jamais deixe seus amigos para trás... no final, eles são sempre a boa coisa que te resta.

Vanessa Aquino


Thursday, June 28, 2007

Sobre Veneza



Há uma festa em Providence, cidade do estado de Rhode Island, nos Estados Unidos que muito me encanta. Eu nunca havia visto uma cidade inteira se vestir com uma fantasia tão doce e concentrada como esta.


Deixando seu carro para trás num morro que mais lembra Ouro Preto, uma música envolve seu espírito na fantasia da cidade de se tornar Veneza. Mais alguns passos e você já está lá, em algum século passado, caminhando ao lado do rio iluminado pelas tochas e velas que mais romantizam as gôndolas que vão e vêm com seus enamorados e fantasmas distribuindo cravos aos passantes.


O sentimento é de que os amantes de Verona fugiram de seus algozes e foram ali passear na "nova Veneza" e Romeu e Julieta poderiam ser você e o seu amor, poderiam ser eu e uma animada companhia, poderiam ser todos os rostos que vi passar.


A festa é linda e nos transporta através do tempo, mas o que mais me espantou foi descobrir a quanto tempo eu não via gente. Eu fui tomada de um susto tal que eu não pude me conter em encarar as pessoas e observar suas feições e expressões como se eu nunca tivesse imaginado que existisse vida além da porta de vidro da minha sacada.


Desperta, vesti-me de um sorriso genuíno e dancei entre a gente desconhecida como se eu não fosse só. Colombina que sou, me esqueci do Pierrot e também do Arlequim... afinal, no fundo, no fundo, são apenas fantasias que acabaram, como a festa de Providence que se despiu com a chegada do sol.

Ah! Que pena este sol... minha gôndola é agora um carro, eu já nem sou Colombina e Veneza está longe daqui.


Vanessa Aquino.

Thursday, June 21, 2007

Do Adeus

Porque tu me deixastes
Á mingua do teu carinho
E contigo levaste a luz deste meu olhar
Desespero meus passos
Em busca de lucidez

Porque todo o esquecimento
Não pode sequer apagar
Uma ponta das boas lembranças
Quebro eu mesma as poucas vigas
Que deixaste de pé quando fostes

Porque notícia alguma encontro
Das promessas que me fizeste
Quando amigo te fazias
Tomo eu este veneno
Que é o desaparecimento

Para que enfim possamos morrer
Avesso de Shakespeare que somos
Envenenados mutuamente
Apunhalados pela covardia
Enganados pelo desencontro.


Luíza.

06/21/07 - 4:00 AM

Friday, June 8, 2007

Sobre a Solidão

Em tempos de grandes avanços tecnológicos que nos conectam com todos os outros homens, meus irmãos, através de toda sorte de aparelhos, eu vejo que somente a solidão me acompanha. De nada adianta conectar-se com o outro quando, há tempos, não nos conectamos mais a nós mesmos.
A conexão com as nossas idéias, nossas neuras, nossos desejos mais tímidos, nossos temores, nossos segredos, nosso tempo é o que falta para sermos finalmente conectados, não ao que os outros são, mas ao que verdadeiramente somos. Não nos amedronte o medo de sermos nós, de sermos sós e sermos essa louca mistura que dá graça à vida. E se não anseias retirar as amarras-fibra-óptica, as cadeias fone, os grilhões eletrônicos, as algemas virtuais que a ti negam a real beleza que anda lá fora, nas ruas, nos abraços e no sorriso é que amputado fostes das suas melhores possibilidades de prazer. E é assim que eu me descubro conectada a milhares de desconectados da vida e é por isso que somente a solidão me acompanha.

Vanessa Emmanuelle.
09 de fevereiro, 2007